Desde que eu era criança, ouvia histórias sobre casas assombradas e sempre fiquei curioso sobre isto.
Já mais velho, observava que havia situações em que algum tipo de tragédia tinha acontecido dentro da casa, e obviamente as marcas destes acontecimentos davam um tom sombrio ao lugar e quem sabia o que ocorrera não queria ir lá.
No entanto, acabei conhecendo um outro tipo de situação, depois que minha mãe faleceu em um hospital (não foi em casa).
Antes de morrer, minha mãe fazia todos os domingos um almoço aqui em casa, reunindo toda a família, sem faltar um único domingo sequer. Ela deu continuidade a um costume que minha avó materna tinha, depois que minha avó faleceu.
Mesmo quando ficou gravemente doente, até a última semana antes de morrer, minha mãe continuou a fazer almoço no domingo, reunindo toda a família.
Depois de sua morte, ninguém, nunca mais, apareceu aqui em casa, e isto já faz mais de 10 anos.
Desta forma, descobri que existe uma outra maneira de uma casa se tornar assombrada.
As lembranças felizes do passado, contrastadas pela dor da perda de uma pessoa muito querida, impedem que as pessoas voltem àquele lugar, que acabou se tornando algo que "assombra" e entristece as pessoas.
Minha mãe era uma pessoa tão querida, que por um bom tempo, teve gente que passava na frente do edifício onde ela morava, onde moro hoje, e chorava por lembrar de sua morte.
Tenho amizade com os filhos de uma amiga da minha mãe e todos os anos, há dezenas de anos, sempre compareci às festas de aniversário de todos, acompanhado de minha mãe. Depois que minha mãe morreu, quando ia a um aniversário deles, a amiga da minha mãe começava a chorar - parei de frequentar a casa deles, embora ainda receba insistentes convites para ir lá.
Não é só a casa de quem morreu que fica "assombrada', aqueles indivíduos que lembram vivamente a pessoa morta, também ficam "assombrados". É como se a gente se tornasse um "peso" para os outros.
Escrevo e publico muitos textos e nunca tive dificuldade em fazer uma conclusão para terminá-los, mas este eu sinceramente não sei como terminar...