No título deste artigo e no texto abaixo menciono a palavra CRECHE, mas entenda-se qualquer entidade de ensino infantil.
Que fique claro também que não estou me referindo a nenhuma entidade ou pessoa em específico.
Quero apenas deixar minha opinião sobre comportamentos específicos que afetam, ou seja, estão relacionados com educação infantil quando aplicados em uma creche ou escola.
Quando refiro-me à palavra AGENTE EDUCADOR ou PROFISSIONAL DE CRECHE entenda qualquer profissional que atue em educação infantil: professor efetivo, agente educador, estagiário, professor contratado, etc.
O atendimento prestado a crianças por professores e educadores começou a chamar minha atenção muito tempo antes de eu me tornar um agente educador. Frequentemente sou convidado para festas escolares diversas de algumas crianças que me são muito queridas, que sempre estudaram em escolas particulares. Como uma pessoa extremamente observadora que sou, comecei a notar a postura profissional dos professores e educadores que cuidavam delas durante as festas, e confesso que ficaria bastante preocupado se meus filhos estivessem sobre os cuidados daquelas pessoas. Talvez num "prenúncio" do que eu viria a me tornar profissionalmente em um futuro próximo, por mais de uma vez tive que cuidar da segurança e integridade física de crianças que eu não deveria estar cuidando, pois não tinha qualquer contato com a maioria delas, até aquele presente momento. Havia gente sendo paga para isto, que não estava cumprindo com sua obrigação. Esta situação gerou em mim a vontade de começar a escrever sobre coisas que ocorrem dentro deste contexto, e é por isso que há mais de um ano comecei a publicar textos sobre este tema, depois que me tornei agente educador.
Começo o texto com uma pergunta: você, profissional que atua em creche, começa seu dia com o pensamento de que você espera que o final da tarde chegue o mais rápido possível?
Já pensou que você pode não só assistir ao tempo passar, mas também contribuir para a educação, socialização e evolução efetiva das crianças com as quais atua?
Você pode achar que isto se parece com um sermão, algo muito "clichê" ou talvez algo utópico, mas não é.
Mudando um pouco de assunto, conheço algumas religiões onde se fala muito em fazer parte da "obra de Deus" ou ainda onde semanalmente se escuta falar que esta será uma "semana de vitórias".
Não estou aqui para comentar as escolhas religiosas de outrem, nem hipocrisias, mas sim para pegar dois "ganchos": fazer parte de "obra de Deus" e ter uma "semana de vitórias".
Se você trabalha em uma creche, não imagina quantas oportunidades você tem diariamente para fazer parte da "obra de Deus" e ainda chegar na sexta-feira, ao final do expediente, dizer com orgulho de que aquela foi uma semana de vitórias verdadeiras (suas e principalmente das crianças de quem você cuida).
As oportunidades são infinitas, mas vou citar alguns exemplos:
1-) Você pode realizar atividades adicionais que reforcem ou complementem o conteúdo pedagógico que está sendo trabalhado pelo professor. Basta alinhar com o mesmo o que ele quer que seja trabalhado com as crianças e trazer para elas qualquer material adicional que enriqueça o que elas já estão aprendendo com o professor. Com isto você ajuda a combater a ignorância.
Vou relatar uma situação que vivi, para ficar bem claro. Uma professora com quem atuei estava trabalhando com as crianças o tema "ANIMAIS MARINHOS". Comecei buscando na Internet fotos de animais marinhos diversos para montar painéis em sala de aula. Fiz o "download" de alguns vídeos com a apresentação de baleias orca no Sea World de San Diego (California/USA) e também do show de golfinhos de Dubai, mostrando estes vídeos para as crianças no período da tarde. Usando o painel de fotos que foi montado na sala de aula, ensinei os nomes dos animais e algumas de suas características. Fui além... Fiz o "download" de vários vídeos da Internet que mostravam em seu "habitat" natural todos aqueles animais que estavam no painel fotográfico da sala de aula, cortei trechos destes vídeos e montei um novo vídeo para as crianças.
É claro que nem todo profissional que atua em educação infantil tem conhecimento técnico, recursos ou disposição em seu horário de descanso para fazer edição de vídeos. Contudo, sempre tem algo mais simples que ele pode fazer para ajudar.
2-) Muitas crianças provêm de um lar instável, algumas vezes totalmente desestruturado e até mesmo violento. Embora não seja função de um agente educador interferir na situação familiar de uma criança, ele pode tentar oferecer uma situação de acolhimento enquanto a criança estiver sob seus cuidados. Entendo que esta é no mínimo, uma questão de caridade, acima de qualquer outra coisa. O "fazer parte da obra de Deus" começa aqui.
Deixo algumas perguntas que vão ajudar a guiar-lhe:
- Posso fazer alguma coisa ou suprir de alguma forma, a ausência permanente de um pai ou de uma mãe na vida de uma criança, enquanto a criança está sob meus cuidados?
- Posso cuidar melhor de uma criança cujos pais visivelmente negligenciam cuidados básicos, como por exemplo, a parte de higiene pessoal?
- Posso dar amor, carinho e atenção a crianças que não recebem nada disto de seus pais?
Sim, você profissional de creche pode fazer tudo isto e muito mais se assim quiser.
3-) Existem pais que deixam a impressão de que qualquer coisa, qualquer porcaria que seja oferecida aos filhos serve. Algumas vezes parece ser desleixo mesmo e umas poucas vezes é possível perceber que se trata de falta de recursos financeiros. Independente do que seja, existem situações em que você pode ajudar.
Ouvi falar do caso de uma criança inclusa. Para quem não sabe, uma criança inclusa é portadora de algum tipo de deficiência, e neste caso era uma deficiência mental leve. Os pais mandavam a criança com uma sandália velha, cuja sola estava se soltando. Ao caminhar, a criança, que já tinha suas dificuldades em função de sua deficiência, tropeçava e caía por causa da sola da sandália solta. Foi falado com os pais sobre o problema da sandália, mas nada foi feito. Então, com uma pistola de cola quente, a sola da sandália da criança foi consertada. Umas semanas depois os pais trocaram a sandália por uma nova.
Embora eu ainda não tenha passado por nenhuma situação assim, acredito que existam ocasiões em que você ou a entidade para a qual trabalha precisará fazer algo para ajudar uma criança ou a família dela.
4-) Em várias situações, você pode ter que trabalhar com crianças que não querem comer. Pode ser que você simplesmente não faça nada à respeito. Pode ser que você insista com a criança para que ela coma algo, embora ela continue sem comer. Ou pode ser que você se esforce um pouco mais e tente descobrir qual é o problema e ajude a esta criança a se alimentar. As vezes a criança rejeita uma fruta, mas se você descascá-la e ainda cortá-la em pedaços que caibam na boca da criança, talvez ela aceite comê-la. Quando uma criança rejeita um prato de comida, você pode tentar alimentá-la dando a comida na boca dela, e ainda fazer isto ludicamente, de forma que a criança entenda que o ato de alimentar-se pode ser algo divertido. Já consegui fazer várias crianças se alimentarem fazendo-as acreditar que a colher com a comida é um caminhão de carga que vai entrar em uma garagem (a boca da criança), e a cada colherada, um veículo diferente está carregando a "carga" (comida). Acho que este é o truque mais velho que existe para fazer uma criança comer.
Comentei apenas quatro situações, mas como disse anteriormente, as oportunidades são infinitas e basta ter boa vontade e um olhar atento às situações (oportunidades) que estão a sua volta.
Sei que existem fortes fatores desanimadores, como o salário baixíssimo, a rotina, a desmotivação causada pela equipe gestora ou por parceiros de trabalho lastimáveis, a inexistência de desafios, o que leva à acomodação do profissional. Sei também que a chatice, a falta de educação, a falta de limites de algumas crianças também são extremamente desgastantes.
Somente você pode fazer a escolha de sair de sua zona de conforto e aproveitar as oportunidades que aparecem diariamente e lhe oferecem chances para ter uma "semana de vitórias" ou fazer parte da "obra de Deus"
Um bom trabalho a todos, e vamos oferecer o melhor para as nossas crianças!
Para você que trabalha em creches, deixo a dica de um livro interessante:
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