Durante este texto uso a palavra CRECHE, mas entenda-se qualquer entidade de ensino infantil.
Que fique claro também que não estou me referindo a nenhuma entidade ou pessoa em específico.
Quero apenas deixar minha opinião sobre um tema que está relacionado com educação infantil.
Quando refiro-me à palavra AGENTE EDUCADOR ou PROFISSIONAL DE CRECHE entenda qualquer profissional que atue em educação infantil: professor efetivo, agente educador, estagiário, professor contratado, etc.
O tema deste artigo é muito interessante e importante para a criança pois trata do protagonismo dela em relação à sua vida e os aprendizados que realiza.
O protagonismo e autonomia jamais devem ser confundidos com o fato da criança fazer o que bem entende, como quer ou quando quer.
Em qualquer lugar do mundo existem regras morais e sociais que precisam ser seguidas, caso contrário teríamos o caos.
A pediatra austríaca Dra Emilie Madeleine Reich, mais conhecida como Emmi Pikler, criou uma concepção sobre a Primeira Infância chamada de Abordagem Pikler, e dizia que para que as crianças se desenvolvam de maneira integral, elas precisam agir com autonomia desde o nascimento.
Apenas a título de esclarecimento, Primeira Infância considera os 5 primeiros anos de vida da criança, embora aqui no Brasil, a lei 13257 de 08/03/2016 determina que sejam considerados os 6 primeiros anos de vida.
Outra frase interessante de Emmi Pikler, que nos remete à importância de respeitar o protagonismo da criança e mais ainda, o papel do adulto na interação: "No relacionamento, o adulto faz tudo ‘com’ o bebê e não faz nada ‘para’ o bebê".
Observe que esta última frase tem mais de um entendimento possível.
Perceba como é importante o adulto saber identificar o momento certo para fazer uma intervenção, quando uma criança está vivendo um momento que é só dela.
A teoria é linda, mas como fazer para colocar isto em prática?
Vou elencar alguns exemplos que para mim indicam de maneira inequívoca o que significa o protagonismo da criança.
Na última versão do documento do Ministério da Educação chamado de Diretrizes Curriculares Nacionais Para a Educação Infantil (DCNEI), é citado, no capítulo das práticas pedagógicas da Educação Infantil, o seguinte trecho: "Garantir experiências que promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança".
Já no documento da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), citados como Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento na Educação Infantil, destaco estes:
- "Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais".
- "Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando".
- "Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia".
- "Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens".
Respeitar o protagonismo também implica em respeitar o tempo da criança - cada criança leva um tempo para fazer suas descobertas, ou seja, a obtenção de sua experiência é atemporal. Um educador nunca pode querer que todas as crianças assimilem o mesmo conhecimento em um mesmo instante.
Além da pesquisa documental sobre o protagonismo da criança, pesquisei também em sites e vídeos de escolas na Europa e Estados Unidos, e encontrei situações em que:
- Adultos propunham aproximadamente 3 atividades diferentes para as crianças, e elas escolhiam democraticamente qual iriam fazer. Em alguns casos, as crianças poderiam fazer qualquer uma das três e ainda fazer todas as três, se quisessem.
- Antes de disponibilizar uma atividade para as crianças, o adulto precisa fazer a preparação da mesma, quer seja obtendo materiais, dando algum tipo de tratamento a estes materiais, construindo objetos ou cenários, etc. As crianças foram convidadas a participar da preparação das atividades também, o que tornou algo muito mais divertido e útil para elas.
Existem vários outros exemplos que poderiam ser usados aqui, lembrando que o importante é que a criança possa fazer escolhas e ter autonomia.
Por outro lado, o educador nunca deve justificar sua negligência em cuidar de uma criança, alegando que está deixando que a criança seja protagonista da própria experiência. São duas coisas bem diferentes.
A atenção ao que a criança está fazendo deve ser constante, principalmente para perceber a evolução dela com as experiências que está tendo. Interferência, somente se houver risco à integridade física ou conduta antissocial de qualquer tipo. Fora isso, deixe as crianças brincarem livremente. Veja o artigo
A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR.
Como é sua conduta em relação às crianças com as quais trabalha?
As crianças estão conseguindo exercer o protagonismo delas?
Quais as atividades que estão sendo realizadas que realmente garantem o protagonismo delas?
Desejo um bom trabalho a todos, e vamos oferecer o melhor para as nossas crianças!
Para você que trabalha em creches, deixo a dica de um livro interessante: