Durante este texto uso a palavra CRECHE, mas entenda-se qualquer entidade de ensino infantil.
Que fique claro também que não estou me referindo a nenhuma entidade ou pessoa em específico.
Quero apenas deixar minha opinião sobre um tema que está relacionado com educação infantil.
Quando refiro-me à palavra AGENTE EDUCADOR ou PROFISSIONAL DE CRECHE entenda qualquer profissional que atue em educação infantil: professor efetivo, agente educador, estagiário, professor contratado, etc.
Neste ano, por conta da pandemia, tive a oportunidade de passar por formações relativas à Educação Infantil, e uma das coisas que aprendi foi a importância do brincar no processo de aprendizado da criança.
Sou uma pessoa que ao aprender algo, costuma pesquisar mais extensamente sobre o assunto, mesmo não sendo Pedagogia a minha área de formação.
Hoje irei compartilhar algumas coisas que aprendi e a importância que existe no processo do brincar das crianças.
Vou começar com um conceito importantíssimo, defendido pela neurociência, que é o fato de que até a idade de 5 anos, toda criança tem pelo menos 80% de suas conexões neuronais voltadas ao aprendizado não formal, e que as conexões não utilizadas, não aproveitadas, que não retiveram conhecimentos, serão definitivamente descartadas a partir dos 6 anos de idade.
Ao brincar, as crianças realizam aprendizados de todos os tipos, nas coisas mais simples.
O conceito de Território de Aprendizagem prega exatamente isto: aprender brincando, ao interagir em um espaço que a cada dia pode estar configurado de uma forma diferente, para que habilidades e competências diferentes possam ser adquiridas.
Vale ressaltar que não é simplesmente o brincar, mas brincar com qualidade, com disponibilidade de tempo e espaço.
Ao brincar, a criança cria as regras daquilo que ela mesmo aprende, assume papéis variados, entende o mundo através de suas experiências.
Ao fazer as escolhas por conta própria, a criança se realiza e reconhece em si a sua individualidade.
Assistindo a um dos vídeos do projeto Green Renaissance, deparei-me com a interessante frase: "a criatividade existe para nos ajudar a explorar quem nós somos, colocando-nos em contato com o que acontece conosco, para que possamos viver mais profundamente".
Falando um pouco sobre a importância dos materiais não estruturados...
Eu estava lendo um prospecto que achei bem interessante da Lyons Early Childhood School, uma escola de educação infantil da Austrália, e encontrei uma referência à Teoria das Partes Soltas (Theory of Loose Parts).
Em 1972, o arquiteto Simon Nicholson desenvolveu a Teoria das Partes Soltas onde diz que peças soltas podem ser movidas de lugar, tendo suas funcionalidades reinventadas quase que infinitamente, criando muito mais oportunidades para uma interação criativa do que os materiais e ambientes estáticos.
Imagine este poder de criatividade disponível nas mãos das crianças.
Somado a isto, temos também a Teoria das Cem Linguagens das Crianças, criada por Loris Malaguzzi, o fundador da filosofia educacional Reggio Emilia. Esta abordagem fala sobre a crença de que a criança usa inúmeras formas para expressar seu entendimento, criatividade, descobertas, através não só da fala, mas também através dos principais tipos de modalidades artísticas, movimentos corporais, expressões faciais, etc.
O educador tem boas "ferramentas" em suas mãos para ajudar no desenvolvimento efetivo da criança.
Neste momento temos outro fator importante, que é a interferência do adulto enquanto a criança brinca.
Só interfira se houver algum risco real, caso contrário, deixe-a brincar livremente.
Via de regra, o papel do adulto é apenas de observador, um ouvinte das necessidades manifestadas não só verbalmente, e quando muito, facilitador, provedor de recursos, criador de contextos ou cenários e alguém que garanta que a criança exerça seus direitos de aprendizagem ao brincar.
Mesmo que ele veja que a criança esteja fazendo algo de uma forma menos prática e mais demorada, deve evitar interferir, pois ao repetir o processo várias vezes até dar certo, a criança aprende muitas coisas com a análise do resultado obtido versus a ideia inicial que ela tinha, que inclusive pode mudar depois de algumas tentativas infrutíferas.
Ao interferir, além de contaminar ou cercear a possibilidade do aprendizado, você está impondo paradigmas e barreiras para a criança.
Não quero dizer que a criança deva ficar como um animal selvagem fazendo o que bem entenda, mas o adulto deve ficar mais atento às intervenções que ele próprio faz com as crianças quando elas estão brincando.
Um educador que seja um bom observador, conseguirá notar não só os resultados obtidos pela criança, como o também o processo usado por ela para ter o aprendizado.
Bons questionamentos para se fazer ao se observar uma criança:
- Alguém está brincando sozinho?
- Quem está brincando com quem?
- Existe mistura ou separação de gêneros nas brincadeiras?
- Qual a faixa etária das crianças com quem esta criança está brincando?
- O que está fazendo? Do que está brincando?
- Por quanto tempo esteve brincando disto?
- Quais tipos de brincadeiras são mais buscadas por esta criança?
Prega-se que a criança é a protagonista do seu cotidiano na escola ou creche, assim como nos seus processos de aprendizagem.
É claro que um adulto pode participar de uma brincadeira, e neste caso, ele consegue assegurar ainda mais que este direito de brincar se concretize.
Nunca é demais lembrar que nesta faixa etária, o tipo de pensamento predominante na criança é o PENSAMENTO DIVERGENTE, enquanto no adulto o predominante é o PENSAMENTO CONVERGENTE. Lógicas totalmente diferentes.
Enquanto brinca, a criança está aprendendo e se desenvolvendo como ser humano.
Que fique claro que esta abordagem do brincar, não se opõe aos conteúdos formais de ensino, mas o que precisa ser revisto é a forma como isto acontece.
Finalizo o texto com uma frase que vi em um vídeo há um bom tempo, e que resume tudo o que falei: "A brincadeira é a coisa mais séria que a criança faz".
Desejo um bom trabalho a todos, e vamos oferecer o melhor para as nossas crianças!
Para você que trabalha em creches, deixo a dica de um livro interessante: